quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

O Natal dos Koseritz


"Mais uma vez se fez Natal e pela manhã já havia mandado a árvore de Natal para a chácara onde eu morava na Azenha.  Até “Knecht Ruprecht” já havia tido sua oportunidade de nos visitar no dia anterior e assim como antigamente meus irmãos ficavam na ansiosa expectativa, hoje eram minhas filhas que contavam as horas e não conseguiam conter sua ansiosa espera, que parecia não ter fim. Mesmo sabendo desde a mais tenra infância como era ver acesa a árvore e de como lhes traria gratas surpresas, a noite era muito aguardada. Claro que não podiam ir patinar, ir ao gelo, pois nossa casa quase ficava oculta debaixo do oleandro  em flor:  os canteiros estavam repletos de flores e rosas brancas e enchiam  o ar com seu suave perfume.
Estávamos no Brasil e o sol de dezembro derramava seus raios dourados sobre toda esta profusão de flores. O sabiá faz ouvir seu canto como que um hino de louvor por entre as folhas do jerivá e tudo parece respirar o ar de verão.
As crianças corriam pelo jardim a fim de matar o tempo de espera e espiavam curiosos quando o pai, à tardinha, chegou com o carro carregado de pacotes. E embrulho após embrulho era levado para dentro de casa. Ansiedade! Seus corações batiam forte como outrora batia o meu e os seus olhos brilhavam tais quais os meus haviam brilhado.
Oh! Maravilhosa alegria natalina, tu jamais terás fim! Primeiro a alegria de quem recebe depois daquele que presenteia!
Knecht Ruprecht
Enquanto isso o meu velho camarada Carl Petermann (que vem em todos os natais e que as crianças chamam de tio Ruperto, como que Knecht Ruprecht) eu e ele já havíamos enfeitado a árvore, colocado as luzes, espalhado os numerosos presentes e colocado o presépio ao pé do pinheiro. Muito lindo fica o pinheiro brasileiro festivamente vestido, mesmo que com agulhas bem mais agudas do que nosso pinheiro alemão e que precisa de luvas para ser enfeitado. Finalmente está tudo no seu devido lugar:
Cada uma das meninas encontra no seu lugar aquilo que mais desejava e várias outras surpresas. Nada faltava: nem nozes, nem bolo de mel, tão pouco “stollen”. É uma autêntica mesa de Natal alemã que espera anualmente pelas crianças e sua alegria também é verdadeiramente a alegria de Natal alemã.
Agora todas estão no quarto das crianças, sentadas juntas, com seus vestidinhos brancos e os loiros cabelos revoltos, com os pequenos corações palpitando de pura espera.
Ouve-se a sineta; todos correm em disparada rumo à porta fechada da sala de estar que agora se abre e a intensa luz da árvore de Natal é derramada sobre todos com seu brilho, brilho este que parece competir com o do olhar feliz das crianças. Isto dá aos pais um retorno mil vezes maior pelo seu amor e dedicação. 
 Pelas janelas abertas entra a morna e perfumada noite de verão e inunda  a sala onde as meninas e suas amiguinhas recém-chegadas correm alegremente de um presente para o outro, tagarelando sem parar e volta e meia indo até os pais para abraçá-los com bracinhos estendidos e beijos carinhosos de agradecimento.
Começa a crepitar em alguns galhos da araucária e lentamente é preciso ir apagando as velas, uma a uma, até que a sala é fechada e todos precisam se recolher. A pequena turma ainda fala sobre todas as maravilhas dos presentes recebidos e planejam brincadeiras para o dia seguinte.
No jardim, debaixo do caramanchão coberto de rosas-chá perfumadas, ainda fico sentado com meus amigos sorvendo “bowle” e fumando charuto, num alegre vai e vem de palavras. Naturalmente a conversa declina sobre o tema da alegria de Natal e chegamos à conclusão de que não é possível imaginar uma verdadeira vida familiar sem festa de Natal e que é preciso sentir pena dos povos que desconhecem a noite de Natal no verdadeiro espírito e costume alemão. Da mesma forma deveria haver também, por mais modesta que fosse , uma árvore de Natal em cada lar de tradição alemã porque a alegria natalina é uma recordação para toda a vida; significa o ponto alto da vida das crianças  e promove para os pais a mais rica e pura alegria.
                                              
Na manhã seguinte, enquanto as crianças ainda dormem e sonham com as alegrias da festa e apenas leves sinais anunciam um novo dia, silenciosamente e com todo cuidado levanta de seu leito um homem já no início do envelhecer e se dirige para  a sala ...
Aí está o inebriante aroma do Natal, de pinheiro, velas e stollen.
E os olhos do homem, por alguns instantes, ficam anuviados e úmidos. Ele volta no tempo e lembra  dos felizes natais na distante casa paterna.
O pai já descansa há tempo em fria sepultura. Solitárias vivem a mãe e a irmã que só encontram o calor do verdadeiro espírito de Natal na casa do irmão onde alegres crianças rodeiam o pinheiro.
Para mim a alegria do Natal renasceu aqui, no distante sul e eu agradeço ao destino que me conduziu por tormentas e  me levou até o porto seguro da família e da felicidade."

                                                                                    Carlos von Koseritz



(Texto auto biográfico, retirado do Koseritz VolksKalender, sem data)
                                                                             

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Prêmio Revelação Literária

Na noite de 24 de novembro de 2012, recebi o Prêmio Revelação Literária, da Rádio Cultural FM, de Torres/RS.
Vários artistas, ativistas culturais e personalidades da cidade de Torres já foram agraciados com o Prêmio Cultural, que abrange diversificadas áreas, há seis anos. Fiquei imensamente feliz em ser uma delas!
Obrigada, Rádio Cultural! É sempre bom ver a Literatura valorizada neste país.


 Silvia Meirelles Kaercher

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Meu primeiro amor

Ontem encontrei um velho amigo. Mas velho mesmo, de 30 anos atrás. Ontem encontrei meu primeiro amor.
Lembro-me de quando o vi pela primeira vez. Foi na Feira do Livro de 1983, em Novo Hamburgo/RS. Eu tinha 10 anos. Passeava pela feira com uma amiga, por entre as tendas, mexia aqui, lia ali, bem como fazem todos os visitantes de feiras mundo a fora... 
Mas, então, o vi. Toquei-o, displicentemente, talvez sem carinho, com certeza sem amor, num primeiro momento. Aos 10 anos tudo nos é relativamente novo, até os amores.
Pouco lembro do cenário à minha volta, do tempo, das pessoas. Algo sobre uma banca com assoalho e paredes de madeira dança em minhas lembranças. Mas dele, o meu primeiro amor, lembro até os versos que me conquistaram:

Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos,
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor, mais breve ainda...

Meu primeiro amor foi o livro "Esconderijos do Tempo", de Mario Quintana, que comprei naquela feira, aos 10 anos. Jamais o esqueci, por toda a vida. E ontem reencontrei-o, amarelado, envelhecido, manuseado... De certo, está feliz!

            Silvia Meirelles Kaercher


terça-feira, 30 de outubro de 2012

Não estamos sós, Manny!

Manny, o mamute solitário
No filme de animação A Era do Gelo 2 (2006), o mamute Manny vive a triste sina de ser o último de sua espécie. É o que todos lhe dizem, embora ele não queira acreditar. Ser o último significa que, ao morrer, não apenas você, mas toda a sua linhagem deixa de existir. Ser o último também significa estar sozinho no mundo, sem outros como você. Todos somos únicos, mas ninguém quer ser o único sozinho.
Nossa família vivia este dilema também. Por anos, procurei descendentes da família Koseritz, alguém com o sobrenome, que parecia haver se extinguido com a morte das filhas de Carlos von Koseritz. Kurt e Tony, os irmãos de Carlos,  não deixaram herdeiros. Uma solidão mundial me invadia. Não haveriam outros, no mundo todo? Éramos uma célula única?
Mas assim como para Manny, um dia a nossa solidão terminou. Sim, haviam outros de nós, outros apaixonados pela família Koseritz e seu legado, pares que também nos buscavam!
Brasão da Família Koseritz
A internet e o Facebook facilitaram o encontro da família Koseritz brasileira e a alemã, sendo o único entrave real o idioma, obstáculo facilmente ultrapassado pelos tradutores simultâneos, embora não sem algum ruído na comunicação... Coisas que, na alegria da descoberta, não têm a menor importância!
Identifiquei-me com Manny e sua solidão universal. Senti-me como Manny, e sua descoberta de um futuro promissor. Assim como Manny, apaixonei-me por esses outros de nós. Tê-los agora, entre meus amigos virtuais é muito bom!
Sejam bem vindos, queridos primos! É muito boa a sensação de não sermos mais sós!

                        Sílvia Meirelles Kaercher, uma Koseritz!

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

À Carolina, com amor

São 147 anos!
Era um dia 23 de outubro de 1865 quando nasceu a primeira filha de Zeferina e Carlos von Koseritz. Uma menina, de pele rósea e delicadas feições. Desde muito cedo, atraiu as atenções e o amor do pai, aprendendo com ele o idioma alemão, e sendo sua companheira, um verdadeiro "anjo", como descrevem seus contemporâneos.
Carolina cresceu em um ambiente favorável ao desenvolvimento de suas aptidões literárias. Grandes e ilustres personalidades de sua época frequentavam a casa de seus pais e os saraus e debates eram comuns em seu dia-a-dia. Alimentou o espírito criativo diretamente da fonte mais proeminente daquele tempo: seu pai.
Dedicou-se com afinco à tradução de grandes clássicos da época, tanto em língua alemã quanto na inglesa, e recebeu reiterados elogios por sua atuação. Marcou seu próprio nome na História da Literatura Nacional, sendo ainda uma moça.
Mas a vida não foi complacente com Carolina. A felicidade parece ter quebrado os laços com a jovem escritora. A maturidade trouxe-lhe grandes dissabores, tragédias e dores. E, acima de tudo, o arrependimento, a sensação de que desperdiçara a existência.
Mas hoje não é dia de lembrar a tristeza, e sim de comemorar a vida de uma mulher corajosa  e apaixonada, que, com seus erros e acertos, deu origem a uma família que a admira e se orgulha de seus feitos. Somos, uma parte de nós, fruto de seus erros, de seu sofrimento, de seus pecados. Mas quem de nós não erra, não sofre, não peca? Aponte-me um e lhe direi: não vive!
Que de onde estiver, essa extraordinária mulher possa receber o nosso amor, nosso carinho e nosso agradecimento. Foram seus erros que nos trouxeram aqui, mas são seus acertos que nos levam além!

FELIZ ANIVERSÁRIO, MINHA ADORADA CAROLINA!

                                                                                                            Silvia M. Kaercher

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

O advogado Koseritz

Dentre as mais variadas atividades que Carlos von Koseritz exerceu, pouco destaque se deu à sua profissão de advogado.
Recém chegado da Europa, em 1851, dedicou-se a aprender o idioma nacional e assim que o dominou, trabalhou como guarda-livros, professor, médico leigo, jornalista, escritor, empresário, político e advogado. Exercia suas funções muitas vezes de forma conjunta, de onde não se podia separar o advogado do professor e nem mesmo o jornalista do empresário. Sustentar sua família requeria recursos e fontes diversas...
Uma de suas mais destacadas causas foi na questão dos Muckers. Apesar de haver se posicionado contra o movimento religioso, foi advogado de vários envolvidos no episódio durante o processo que se sucedeu à morte de Jacobina Maurer e seus devotos.
Abaixo, um anúncio, publicado no Koseritz Deutsche Volkskalender, em que Carlos von Koseritz oferece seus préstimos como advogado. Seu escritório ficava à rua General Câmara, nº 2, em Porto Alegre/RS.

sem data


Carolina von Koseritz, a Carola

Carolina von Koseritz foi uma mulher à frente do seu tempo e isso se deve, muito, à convivência com o pai. Nascida em 23 de outubro de 1865, em Porto Alegre, desde cedo teve sua aptidão literária estimulada, numa época em que as mulheres não se destacavam na sociedade, há não ser por seus casamentos e filantropias. Falava, escrevia e traduzia várias línguas: alemão, inglês, francês, latim, espanhol.
Com o pai, Carolina engajou-se no movimento abolicionista, no estudo da filosofia espírita, no desenvolvimento cultural da Província e na divulgação dos ideais germanistas.
Sua produção literária é admirável. Com treze anos ganha seu primeiro concurso de poesias e passa a receber atenção privilegiada do pai, secretariando-o. Ainda na adolescência, traduziu e publicou vários contos dos clássicos alemães e ingleses. Aos 18 anos, em viagem ao Rio de Janeiro, traduziu e publicou “Réquiem”, um poema do poeta austríaco Dranmour, prefaciado por Sílvio Romero. A crítica da época aplaudiu a “quase menina”.
A partir daí, seguem-se várias publicações de contos próprios e traduções: Hermann e Dorothéa, de Goethe; Excelsion, de Langfellow; Relíquias Vivas, de Turguenoff; Manfredo, Oscar e Masera, de Lord Byron; O Grilo da Lareira, de Charles Dickens.
São produções suas: Uma dor de cabeça; A freira; Um perfil; Uma flor Fenecida; A vingança das Flores; Risos e Sorrisos; Antigualhas e Episódio Obscuro.
A maior parte de suas produções está distribuída pelas páginas corroídas e amareladas dos jornais da época, como o Jornal do Commércio, Koseritz Deutsche Zeitung e Mercantil e escondidas sob pseudônimos. Alguns contos aparecem nas Revistas Kodak e Norte-Sul. Comenta-se que na Biblioteca Nacional existam livros seus.
Conforme descreve sua pesquisadora, Hilda Agnes Hübner Flores, Carolina von Koseritz “pertence ao pequeno grupo de mulheres intelectuais que integraram o romantismo das últimas décadas do século XIX. Tradutora poliglota, enriqueceu o Brasil com literatura alternativa face à dominância do francesismo cultural.
O pioneirismo de Carolina revela-se na projeção da capacidade feminina além dos umbrais domésticos, em busca do lugar adequado que cabe à mulher na sociedade atual.”
Carolina Von Koseritz é nome de rua em Porto Alegre e patrona da cadeira nº. 15 da Academia Literária Feminina do Rio Grande do Sul.
Carolina e seus filhos, João e Carlos

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Receita de Carolina: "Mai Benta"

Retirada do livro de receitas de Carolina von Koseritz:

"MAI BENTA"

Meia libra de manteiga
Meia dita de assucar
Meia dita de farinha de arroz
Côcô
6 ovos, sendo 4 sem claras e 2 com claras batidas a parte.

Bate-se o assucar com a manteiga, junta-se 6 gemas batidas aparte, torna-se a bater, e depois mistura-se o côcô e torna-se a bater, mistura-se a farinha e bate-se e vai ao forno quente.
As forminhas são forradas com folhas de bananeira, quando tem. Não tendo, são untadas com manteiga.


(mantida a ortografia da época)

Se você quiser experimentar esta delícia, segue uma receita mais moderna: 


MÃE BENTA

Ingredientes
1 colher de sopa bem cheia de manteiga
1 xícara de açúcar
3 ovos
1 xícara de farinha de arroz
150ml de leite de coco
Modo de fazer 
Preaqueça o forno a 180º C. Na batedeira, bata a manteiga com o açúcar, acrescente as gemas uma a uma e continue batendo até a massa ficar esbranquiçada. Desligue a batedeira e acrescente a farinha de arroz, alternando com o leite de coco, e misture com uma colher de pau. Bata as claras em neve e junte-as à massa, misturando delicadamente.
Coloque as forminhas de papel dentro das formas de empada para que não percam o formato ao assar. Despeje a massa deixando cerca de 1 centímetro de borda. Leve ao forno para assar de 30 a 40 minutos, ou até que estejam douradas.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

As receitas de Carola

Hoje vivi um momento muito especial. Em minhas mãos, estas grandes e desajeitadas mãos, esteve, por alguns minutos, a maior preciosidade de nossa família. Meu objeto de desejo, em anos de pesquisa. Algo que alimentou minha curiosidade e imaginação, uma coisa tão pequena e simples, mas que tomou proporções gigantescas em meu desejo: o CADERNO DE RECEITAS de Carolina von Koseritz!
Quem conhece minha história, ou leu meu livro "Carola", sabe do imenso amor e carinho que dedico à minha trisavó. Mas para quem não sabe, vou dar uma ajudinha: imagine ter em suas mãos algo tão antigo, tão rico em significado, tão precioso... Um pequeno caderno, do tipo brochura, de capa dura e vermelha. As folhas, finas, delicadas, quase transparentes, desgastadas pelos mais de 100 anos de existência. A caligrafia caprichada e perfeita, escrita a bico de pena, a letra da jovem Carolina...
Aquele caderninho, que para qualquer um meio desavisado, não passaria de uma velharia,esteve nas mãos de Carolina, nas mãos de sua filha Stella, e serviram para orientar as deliciosas e exóticas receitas que alimentavam a família, há tantos anos atrás. Pudins, bolos, sopa... E o indefinível  Pudim de Salmão!
A sensação que tive foi indescritível, misto de alegria e de admiração. Meu coração se aqueceu, vibrou de mansinho e minhas mãos, tão grandes e desajeitadas, fizeram-se leves, para acariciar, cheias de amor, aquelas páginas antigas, amareladas e tão cheias de significado.
Hoje, realizei um sonho! Meu agradecimento sincero à tia Leda Feijó, que proporcionou-me isso!
                                                                                                           
                                                                                                              Silvia M. Kaercher

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Koseritz e a cultura gaúcha

Não foi, o 20 de setembro, o precursor da Liberdade, como canta o Hino Rio Grandense, pois após o término da Guerra dos Farrapos, o Rio Grande do Sul continuou atrelado ao governo brasileiro. Mas foi, sim, o precursor do grande orgulho que o povo riograndense tem por sua terra, seus hábitos, sua cultura.
O gaúcho é estimulado, desde a mais tenra idade, a valorizar suas tradições, habituar-se com o vocabulário campeiro e a ouvir suas canções típicas, repletas de sentimento de amor a seu estado/pátria e cultiva hábitos como chimarrão, carreteiro e churrasco em todas as camadas de sua sociedade, hábitos antes restritos à lida nos campos, aos trabalhadores das zonas rurais. Somos hoje, um grande estado/nação de campeadores!

CARLOS von KOSERITZ, grande amante que era das coisas do Rio Grande e do Brasil, foi um dos pioneiros no resgate desta cultura. Publicou poesias populares, instigou o povo a valorizar suas origens e foi, por isso, admirado em todo o país.

Segundo José Fernando Carneiro, biógrafo e historiador, no livro KARL VON KOSERITZ (Cadernos do Rio grande X):

"Merecem referências seus estudos sobre a poesia popular rio-grandense, que ficaram célebres. Foi (Koseritz) quem primeiro identificou e colheu no Rio Grande uma versão de NAU CATARINETA. As quadras populares que coligiu serviram depois a Simões Lopes Neto na elaboração do seu CANCIONEIRO GUASCA. Um precursor (Koseritz), portanto, na família dos nossos folcloristas."

                                                                                                       
Que sirvam, pois, essas façanhas, de modelo a toda gente!

Um 20 de setembro abençoado aos gaúchos e gaúchas de todas as querências!

                                                                                    Silvia Meirelles Kaercher


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A PROMESSA

A crônica que transcrevo abaixo foi escrita pelo jornalista Alceu Feijó, e publicada no Jornal NH, no dia 3 de janeiro de 1986.
Uma lição de amor e respeito aos nossos amados pais, que tanto fizeram por nós!

A Promessa

Ao completar mais um ano e contemplar uma velha fotografia dos plantadores de trigo lá em São Francisco de Paula, vejo entre eles a presença de meu pai, Darci Feijó. Um turbilhão de coisas e emoções se abate sobre as minhas saudades e lembranças. Uma delas é que meu pai faleceu com 47 anos e eu já tenho 58, portanto, já vivi muito mais do que ele, no entanto, de tudo que me lembro, ele viveu uma eternidade, tão marcada que ficou sua passagem entre nós e seus amigos. Ele faleceu quando esperava um neto, morreu antes da Lenize nascer, ela que seria sua primeira neta, eu já tenho cinco, e acho que ele seria muito mais avô do que eu tenho sido, embora eu consiga ser  um avô integral durante 15 minutos quando os cinco estão reunidos comigo. Ele que me desculpe, mais de 15 minutos não dá pra aguentar o redemoinho  que representam. 
Um domingo me enchi de coragem e fui passear com o bando todo em São Francisco. De largada já começaram a brigar pelo lugar da frente e na volta estavam brigando pelo lugar de trás. Houve um momento em que o pandemônio era tão grande nos fundos da Caravan  que eu travei no meio da RS e bradei com os braços levantados:
- CHEGAAAAAAAA...
Mas são um encanto, logo serenaram e passaram o resto do passeio quietinhos e se espiando, na maior candura do mundo. Até hoje eles lembram da minha bronca.
 Mas eu também me lembro perfeitamente de uma tarde num quartinho escuro da Beneficência Portuguesa, onde meu pai se recuperava de uma operação e me abraçando, pediu balbuciando:
- Se me acontecer alguma coisa, cuida da tua mãe.
Anos mais tarde ele morria e minha mãe passou a morar comigo. Inicialmente, sem poder lhe oferecer muito de conforto e até mesmo de carinho, via o tempo passar e as palavras de meu pai bem vivas na minha consciência.  Resignada e pacienciosa, ela jamais pediu nada mais do que um pouco de atenção e a presença dos netos ao seu lado. 
Nas primeiras horas de 86, levei-a ao seu pequeno apartamento e vendo-a subir os degraus vacilante, procurando apoio nas paredes, não a acompanhei, postado que fiquei ao pé da escada, ouvindo seus passos indecisos sumirem escada acima, a porta bater revelando o som do seu refugio. Por alguns instantes, ainda fiquei imaginando o vazio da vida para os mais velhos. Soberanos e envolvidos com a saúde dos filhos, educação, preocupações de toda ordem, chegam a um momento da vida isolados num canto, mesmo com conforto, somente com suas lembranças. 
Quando consegui um apartamento para minha mãe, cheguei a falar com meu pai prestando conta do seu pedido. Pronto, sua mulher tem um apartamento só dela, cumpri minha obrigação (?). Cada vez que eu ia visitar minha mãe e era recebido com agradecimentos, eu sentia que faltava algo. Que não bastava só   o conforto, a tranquilidade, a privacidade de um pequeno apartamento. Foi só na madrugada do dia 1º de janeiro de 1986 que senti que o pedido feito pelo meu pai era bem maior do que uma cama e um prato de comida. Ouvindo os passos frágeis escada a cima e o bater da porta, passei a me questionar se tinha cumprido mesmo a promessa. 
Na mesma hora, multipliquei minha posição pela de milhões, milhões de filhos que levaram suas mães ao "seu cantinho" depois da festa de fim de ano, e concluí que somos todos um batalhão de ingratos incorrigíveis, amordaçados por um sistema de vida que não aceita as coisas de outra maneira. Chega ao ponto que os vizinhos dão mais atenção às "vovós" do apartamento ao lado, que os filhos. Honestamente, não vejo como mudar essa situação, embora sinta todas as emoções que o fato provoca. Vou ter que agradecer publicamente aos vizinhos do Santa Geovana pelas atenções que tem dispensado a minha mãe e ter outra conversa com meu pai e perguntar-lhe se cumpri com seu pedido. Tenho a impressão que ele irá me dirigir um meio sorriso e sacudir sua cabeça negativamente, concluindo com sua bondade:
- Está tudo bem, meu filho, eu e tua mãe estamos felizes...


Stella, mãe de Alceu Feijó,  faleceu dois anos após esta crônica.




segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Resenha: Chiquinha & Eu


Chiquinha & Eu, de Beth Stockler


Casarão nº 8, na praça principal de Pelotas 

Como contar a história de uma casa? Como resgatar a vida das pessoas que ali viveram, há um século? Quanto de tudo isso está em seus descendentes, no inconsciente/consciente de cada familiar?

Abençoada e amparada por recordações vivas e um grande volume de objetos, cartas e documentos, Beth Stockler atirou-se a esse desafio: trazer à vida os Antunes Maciel, proprietários do Casarão 8, hoje em restauro, Patrimônio da Cidade de Pelotas/RS. 

Sua narrativa nos cativa no primeiro capítulo, repleto de amor, daquele amor inexplicável que se tem por alguém que sequer conhecemos, fruto da tradição oral da família e da curiosidade de criança. A volta da bisneta amorosa ao casarão que abrigara sua família por gerações, desperta histórias esquecidas, emoções guardadas, descobertas. 

Francisca Antunes Maciel, a Chiquinha, entrelaça suas lembranças de outrora com as histórias que a autora ouviu e forma uma narrativa repleta de nuances espirituais, testemunhando que a vida segue e que os laços familiares amorosos se perpetuam.

O senhor da casa, Francisco Antunes Maciel, proeminente de seu tempo, deputado provincial, político e Ministro de Estado, abre-nos seus salões onde figuras como Gaspar Silveira Martins e Gumercindo Saraiva são convidados frequentes. Algumas das maiores personalidades da vida pública rio-grandense no final do século XIX,  passam por nós através de documentos, fotos, cartas telegramas, e é admirável como a autora reconstrói o dia a dia da família, nas menores nuances.

O livro não é um romance, não é regido por um fio condutor que trama uma história. São como flashes, momentos, acontecimentos corriqueiros ou importantes, narrados por diversas vozes. Um excelente livro para quem gosta de História, para quem admira a escrita bem delineada, para quem quer conhecer os costumes e os hábitos do século XIX. Mas acima de tudo, Chiquinha & Eu é um livro de amor, uma homenagem que Beth Stockler faz a toda a sua família.  Recomendo.

                               Sílvia Meirelles Kaercher


LIVRO: Chiquinha & Eu – Reinventando o passado
AUTORA: Beth Stockler
EDITORA: Gráfica e Editora Cidade de Barbacena, 2012.
CONTATO COM A AUTORA: http://servoleta.blogspot.com.br/
VENDA: www.livrariamundial.com.br
 EMAIL: lmundial@terra.com.br
 VALOR: R$ 44,00

terça-feira, 7 de agosto de 2012

De Gatos e Ratos - Ruth Fleury

Publico hoje uma grata surpresa que recebi. Ruth Fleury é trineta de Carlos von Koseritz e também escritora. Leia abaixo a divertida crônica que escreveu sobre seus gatos.


DE GATOS E RATOS        


Cheguei à conclusão de que os gatos são animais consoladores, isto é, os pretos e brancos, outros devem ter uma missão, que não conheço. Mas todos têm seus defeitos, entre eles uma urina malcheirosa que tresanda até longe e avisa: “Aqui é uma casa que tem gatos,” e fezes não muito melhores. Criadores de gatos não devem ter mais nariz ou olfato. Contudo os gatos são do bem, enviados não sei por quem, quando a gente mais precisa. Não os meus gatos, que eram bestinhas, um amarelo de nome Bartolomiau e o outro tigrado, e tantos nomes lhe demos que nenhum pegou, e foi só gato mesmo.
Quando minha mãe morreu, os gatos sumiram por uns dias, voltaram depois, mas com imensa cautela, e, inexplicavelmente, resolveram daí em diante fugir de mim, com medo de meus sapatos, de meu andar que ressoava fortemente na casa quase vazia. Não sentavam mais em meu colo, contentando-se em ficar no chão perto do sofá, mas vigilantes. Se eu levantava, disparavam os dois apavorados, e ainda tinham a cara de pau de estar sempre miando por comida. Na visão deles, eu só tinha uma função: alimenta-los toda hora. Não só eu sentia desesperadamente a falta de minha mãe. Os gatos também sentiam sua falta. Apreciavam seu andar vagaroso, com chinelinhos de feltro, seu colo magro, mas acolhedor, sempre fofo e quente pelas mantas e cobertores que usava nas pernas. Mas esses gatos não consolavam de nada, só urinavam sempre e inapelavelmente em qualquer lugar que estivesse limpo. Contudo...
Uma semana após a missa de sétimo dia de minha mãe, eu não tive coragem de ir para o sítio, lugar que minha mãe gostava muito, mas todos os meus filhos foram com esposas, crianças, cachorros e tudo o mais. Foram à noite, tudo normal, ficaram conversando até tarde, e na manhã de sábado, quando sentaram na imensa e acolhedora mesa do terraço para tomar café, estando todos já sentados, uma gata branca e preta saiu da sala para o terraço, pulou num dos bancos e ficou ali graciosamente esperando que lhe servissem alguma coisa. Ninguém a conhecia, ninguém soube de onde ela veio, meus caseiros nunca a tinham visto no sítio, e essa impressão de que alguém a mandara para consola-los, foi tão grande que a batizaram imediatamente de Estrela. A minha mãe chamava-se Stella. A gata continua no sítio. Quase um ano se passou, muito poucas vezes vamos até lá, mas ela continua instalada no terraço numa das cadeiras almofadadas, olhando a paisagem. Só sai de lá para comer a ração de outros gatos que aparecem e ficam por lá para caçar ratos. Comida a ração a Estrela volta digna para seu terraço, sem misturar-se àquela escumalha felina.
Minha irmã, que hoje mora nos Estados Unidos, teve uma gata desse tipo, preta e branca que só faltava falar, como dizem, vivia dando “beijinhos” pequeninas mordidinhas de leve, no rosto da minha irmã. Essa gata viveu uns doze anos e como estivesse doente minha irmã a carregou para sua casa no exterior, onde ela viveu por mais um tempo. Quando morreu minha irmã mandou cremar, arrumou uma urnazinha para as cinzas que estão hoje em cima da lareira. Conta minha irmã que uma semana após a morte da Kika, ouviu uns miados na porta principal da casa, e ali bem em cima do capacho “Wellcome” estava uma consoladora, gata branca e preta também. Essas coisas chegam a dar gastura no estômago da gente.
Tive também um gato preto e branco chamado Don Ramon que criei com mamadeira e viveu, uns oito anos, e acho que foi o mais digno representante da raça felina que jamais apareceu neste mundo . Nunca deu qualquer atenção a cães, era o bicho aparecer farejando e Don Ramon, numa faísca, dava-lhe só uma patada no focinho e o cachorro se afastava  ganindo e lambendo a ferida. Esse gato passeava comigo, ao meu lado por qualquer rua que eu andasse e quando eu falava “vamos para casa”, ele virava e voltava naquele passo sossegado e almofadado dos gatos, sem se distrair com nada, até talvez para me proteger e levar em casa. Morreu logo depois que me casei. Acho que foi desgosto de não ter mais a quem acompanhar. E´ engraçado, só pensei nisso agora, na época não me dei conta.  A gente não vê mais nada alem de si própria quando é jovem...
Enfim fiquei só com dois gatos que não me consolavam e pareciam me detestar. Por que não me desfiz deles? Ótima pergunta, mas eles também cumpriam suas obrigações, por exemplo, não entrava em casa nenhum inseto, principalmente baratas que eles matavam na hora. Às vezes matavam alguns passarinhos e eu ficava danada, mas entendendo. as razões deles.
Quando no mês de março vieram para São Paulo aquelas chuvas só admissíveis nas monções da Índia, todos os bueiros encheram-se de água, e os ratos desesperadamente tentavam sair daquela aguaceira e entravam pelos portões das casas. Eu morava nos Jardins, onde não é muito comum achar ratos nas salas. Pois bem, não havia manhã que eu descesse para o café da manhã sem topar com dois ou três camundongos mortos bem no meu tapete, embaixo da mesa da sala de almoço. Era um desespero ter de embrulhar os ratos no jornal, coloca-los num saco plástico bem fechado, vai que algum não estivesse bem morto e roesse o saco, e leva-los para a rua para o lixeiro pegar à noitinha. Acho que os gatos matavam os ratos assim que eles entravam no jardim, e depois os traziam pela portinha de gatos colocavam embaixo da mesa para mostrar que cumpriam suas obrigações.
Quando eu estava de mudança da casa, os gatos sumiram um atrás do outro, e não mais voltaram. Fiquei sentida, ainda mais que os ratos estavam abusando, carregavam tudo que não estivesse na geladeira. Tranquei todos os armários, mas esqueci dos livros. A casa tinha um jardim de inverno, onde fui colocando pilhas dos livros que iria levar. Uma noite ouvi um barulho de livros caindo e topei com três pares de olhos brilhantes pelos cantos, tentando ficar invisíveis. Não podia fazer nada e nem tinha mais gatos para chamar. Fiquei imóvel, meio escondida, atrás de uma cortina, um bocado de tempo e os ratos foram saindo do esconderijo, para roer as capas dos livros. Não sei que gosto encontravam nelas, claramente pouco alimentícias, ainda mais que estavam roendo “Vidas Secas” e” Seara Vermelha” Fiquei impressionada com a escolha dos livros, eram ratos socialistas aqueles, e percebi que não poderia lutar contra os “companheiros”. Política é coisa séria, não alimenta mas vicia. Conformei-me em perder uma parte das capas dos livros e uma semana depois mudava-me, deixando a casa, e os ratos pessimistas em relação`aquele local. O que eles fizeram depois não sei, devem ter ido para a casa do vizinho que tinha uma boa biblioteca. Nessa ocasião sofrida da mudança, enquanto me acostumava a nova moradia, não me apareceu na porta nenhum gato consolador, mesmo porque moro no nono andar.

                                                                                                                               Ruth Fleury.

sábado, 21 de julho de 2012

"Carola" na Feira do Livro de Torres


Agora é oficial: a escritora Silvia Meirelles Kaercher estará na 12ª Feira do Livro de Torres/RS.
No Domingo, dia 9/09/2012, a partir das 15:30, fará uma explanação sobre seu trabalho, responderá perguntas do público e depois autografará "Carola". AGENDE-SE!


quinta-feira, 5 de julho de 2012

Kurt, o tio rico

Kurt von Koseritz foi o filho do meio dos barões von Koseritz, e irmão de Carlos von Koseritz, junto com  Tony, e sempre viveram em situação econômica privilegiada. Karl deixou tudo para trás ao imigrar para o Brasil, mas o irmão Kurt tornou-se  ministro de estado alemão. Seu patrimônio incluía uma propriedade rural às margens do Lago Garda, na cidade de Sirmione, na Itália, com um imenso casarão em estilo neo-clássico, ricos jardins e uma vista privilegiada para o belo lago. Sua construção data de 1898.
Kurt teve quatro filhos, mas todos faleceram antes do pai, assim como sua esposa. Ele não deixou herdeiros, outro drama da família Koseritz.
Atualmente, a propriedade é um hotel de luxo, o Palace Hotel Villa Cortine.


Para conhecer as belezas do lugar, acesse o link: http://www.italytraveller.com/en/z/palace-hotel-villa-cortine#

E se você for, me leve!!


Palace Hotel Villa Cortine - Itália



quinta-feira, 14 de junho de 2012

Ao meu avô querido

Somos uma família privilegiada. 
Alceu Feijó
Descendemos de Carlos von Koseritz, grande jornalista, deputado provincial, atuante na sociedade riograndense de todas as formas possíveis, pai amoroso, esposo dedicado.
Dentre suas quatro filhas, destacou-se Carolina von Koseritz, seguidora dos passos do pai, contista, poetisa e tradutora e a maior aposta de Carlos.
Nós, que particularmente descendemos de Carolina,  temos em nossa árvore genealógica outro expoente do jornalismo do começo do século, colaborador de Caldas Júnior, e um jornalista controvertido e controverso: Mário de Sá.
Passados os anos, eis que surge, um professor de mecânica, ainda jovem, um apaixonado pela fotografia, vislumbrando, através das lentes, um outro mundo. Um mundo em movimento, através da estática. Um mundo que se cria, conforme o ângulo, que se persegue, que se inventa.
Sendo a fotografia a melhor amiga do jornalismo, o jovem uniu o talento herdado do avô Mário, da avó Carolina e do bisavô Carlos, pintando o mundo com novas cores. Ou com a falta delas. Imagens em preto e branco, que falam por si.
Meu avô, Alceu Mario de Sá Feijó, completa hoje 86 anos. É o repórter fotográfico há mais tempo em atividade no Rio Grande do Sul e aventurando-se pelo Facebook, como um jovem, descobrindo as maravilhas e facilidades deste contato tão rico e fácil.
Suas fotografias são, como outrora foram os textos de Carlos, Mário e Carolina, registros de sua época, dos costumes, da nossa História. Merecem um tratamento especial, merecem um olhar mais demorado. Cada foto tem uma história por trás, além das imagens, a vida do fotógrafo. 
Se na árvore da Genealogia, na qual me balanço em um dos galhos, restou na seiva alguma gota do talento de meus queridos parentes, peço que me deixem contar essa história, a História dos trás das Fotos. 
Meu avô merece, é devido à sociedade e nossa História estaria preservada.
Quem está comigo?

Novo Hamburgo em jogo contra o Grêmio, no antigo Estádio dos Taquarais, em 1948. Foto Alceu Feijó.


Menina negra observa a inauguração de uma escola estadual em Novo Hamburgo. Década de 60, foto Alceu Feijó.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Ao luar - Carolina von Koseritz

O conto a seguir foi retirado do periódico A Família, da redatora Josephina de Azevedo, de 1889, e encontrado no acervo digital da Biblioteca Nacional. Aproveito para parabenizar a BN por sua iniciativa, importante e preciosa, e espero que mais entidades digitalizem seus acervo, facilitando a pesquisa e o resgate da História de nosso país!
A Revista A Familia era um periódico editado e redigido por mulheres, algo realmente raro naquele tempo. Foi publicado de 1888 a 1894.
Carolina tinha 24 anos quando da publicação de seu conto.
Foi conservada a grafia da época.

Com vocês, o conto "AO LUAR", de Carolina von Koseritz.


                                                                        A FAMÍLIA
                                                       Redactora: Josephiana de Azevedo

ANNO I                         Côrte, 9 de novembro de 1889.                             NUM. 37          PAG. 3/4


                                                                                            AO LUAR


         Junto à tosca cerca, formada por uns paus desiguaes, entre as plantas selvagens de toda espécie, florece uma roseira silvestre. Suas brancas flores sobresahem entre a verdura de tons diversos que a cercam e a lua as ilumina com sua prateada luz.

         Ellas, as simples e modestas rosas silvestres, em nada se pareciam com as suas aristocráticas irmãs que com tanto orgulho se ostentam nos jardins e rivalisam entre si, querendo cada qual ser mais bella, almejando como suprema felicidade a escolha de algum noivo para serem oferecidas como mensageiras de amor, ou então, ornarem a fronte de alguma donzela, emprestando-lhe, por algumas horas o seu brilho. Não! Seus sonhos eram outros e não se pareciam com os da altiva Guanabara, da graciosa rosa Chá ou da rubra Senateur Réveil. A lua cada vez se tornava mais clara e seus pallidos raios espelhavam-se em profusão sobre a terra.
       Uma das  rosas brancas, a menos bella, inclinou sua haste, procurando ocultar-se entre as folhas verdes. As suas irmãs, porém, curvaram-se e em sua majestosa e suave linguagem perguntaram:
     - Porque te ocultas, porque foges a luz tão suave da lua, a essa luz tão benéfica para nós?   
     - Porque fujo dela? A! Não me interrogueis por piedade!....
     - Falla, deposita em nosso seio as tuas magoas. Não comprehendes que as dores silenciosas são muito mais cruéis? Porque te subtrahes a esta luz querida?
     - Não sabeis que essa luz que achaes tão suave tem o dom fatal de avivar as dores da nossa alma?
     - E soffres?....Confia-nos as tuas penas. 
     - Vou contar-vos a minha história d'hoje e que ella vos sirva de escudo contra vós mesma. Ouvi: "Sabeis que desbrochei ao romper d'alva e que vós outras quando os raios vivificadores vos decerravam as corollas a luz da tarde, já me encontrasteis no auge da existência. E já eu curtia saudades...
     Pois bem, minha irmã, quando assim abri o peito ao encanto da vida, o ar estava repleto de perfumes e doces murmúrios de amor, as folhas se agitavam alegremente, o sabiá cantava n'aquella larangeira em flor illuminada por um raio de sol.
     Lancei o olhar em torno de mim: insectos dourados brincavam na relva, um pirilampo jurava amor eterno a uma borboleta de tutilantes azas, um canário entoava um romance de amor aos pés de uma gaturamá que do galho superior ouvio com devaneo as endeixas do amante. Finalmente, no meio de todos esses jubilosos hynos de alegria, uma melancólica viuvinha lançava as notas plangentes de seu triste canto.
    Minha alma, que desabrochava sobre a terra só recebera impressões de felicidade e por isto acreditei que o mundo só me reservava prazeres.
     Junto a mim desabrochou uma dessas formosas açucena côr de rosa, silvestre como eu.            
    Contemplavamos tudo em volta de nós, em certo momento açucena chamou-me e mostrando-me um formoso beija-flor que longe nos observava:
    - Vês, dizia ella, como te contempla? Vês o afecto que brilha em seus olhos? Oh! Eil-o que voa e aproxima-se de nós!.....
     A açucena não acabara ainda de fallar, quando elle pousou junto de mim.
     Como era formoso! Cobriam-lhe o corpo pennas de mil matizes, uma côr de rubim, outras douradas, outras ainda verdes com relevos multicolores e como brilhavam seus olhos!....
     Saltitando aproximou-se mais e inclinnando a bella cabecinha que um raio de sol dourava, murmurou-me ao ouvido meigas palavras.
     Dizia-me que entre todas as rosas não havia outra que me preferisse, outra que fosse tão superior a todas as flores, disse tanta cousa ainda, que nem sei como contar-vos....
     Como era feliz, então, que idyllio divino se tornava a vida para mim. E os perfumes se tornavam mais fortes, as folhas se agitavam graciosas, os canticos soavam mais suaves.....
     Eis, porém, que alguém aproxima-se... meu formoso beija-for assusta-se e erguendo o vôo desaparece através das árvores.
     Passou-se o dia. Elle, o traidor, não tornou a voltar e eu esperando-o sempre, não desanimei até o momento em que uma abelha mensageira da minha amiga açucena veio dizer-me que a pessoa que a levara, a transplantara n'um grande jardim e que nesse jardim vira o infiel beija-flor aos pés de uma rosa Chá, jurando-lhe amal-a até morrer!"
     O que sofri então, jamais podereis imaginar. Eis porque a luz da lua, essa luz tão suave, faz-me soffrer, recordando-me minha dor tão recente. Ah! Felizmente sinto que vou morrer.....
     Adeus, não creiam nunca nos juramentos dos beija-flores. São tão infiéis.....
     E ao murmurar essas últimas palavras, a pobre rosinha reclinou tristemente a haste e uma a uma tombaram suas brancas pétalas!....

                                                                                                Carolina von Koseritz


quarta-feira, 30 de maio de 2012

122 anos sem Carlos von Koseritz

O dia 30 de maio de 1890 será para sempre lembrado como o dia que mudou o destino da família Koseritz. Passava das duas da manhã quando, angustiado e infeliz, Carlos von Koseritz morria vítima de um infarto fulminante e da perseguição de seus adversários políticos.
Conta-se que seu velório e cortejo fúnebres, foi o maior visto por Porto Alegre, até então. Atrás do longo cortejo, que incluía representantes da maçonaria, da política e do jornalismo gaúcho, que se dirigia para o novo cemitério nos altos da Azenha, iam os admiradores e uma banda, tocando marchas fúnebres. Prédios públicos exibiam suas bandeiras a meio pau e casas e comércios populares fechavam-se à sua passagem.
Tudo aquilo dava a verdadeira dimensão do reconhecimento e carinho do povo rio-grandense por seu maior jornalista e defensor. Mas ele não pode assistir àquela homenagem. Morrera triste, sentindo-se abandonado e traído.
Trazia o amor pela terra que o acolheu, jovem ainda, e onde constituiu família, amigos, uma rica história e muito inimigos. Dedicou-se inteiramente ao engrandecimento cultural e político da província que escolhera como sua nova pátria e desejava, acima de tudo, o seu progresso.
Alvo de calúnias e perseguições políticas, necessitando salvaguardar a saúde de suas filhas e esposa, a quem sempre colocara em primeiro lugar na vida,  pouco antes de morrer, deixou uma carta de despedida ao povo que tanto quis bem.

São suas últimas palavras:


 “Desde 15 de novembro ocupei meu posto de honra na direção da imprensa do meu partido, sem um momento de hesitação, sem a ideia de um receio, cumprindo o meu dever em toda a sua extensão.
Se hoje, temporariamente, me afasto deste posto não é porque me faleça o ânimo para a luta, nem porque desespere do futuro desta heróica terra, que incólume atravessará todas as provações que parece preparar-lhe a insânia de alguns de seus filhos; é, sim, porque acima do meu dever de cidadão, está o meu dever de pai, que me obriga a precaver a vida de fracas meninas, já profundamente afetadas por contínuos sustos e terrores, principalmente nos últimos dias de prisão, que comigo partilharam, contra novos abalos.
Não fujo, não abandono meu posto de combate, e a ele voltarei, logo que as circunstâncias o permitirem.”

Aguardamos, então, a volta do grande defensor do germanismo, do ilustre jornalista e do mais brasileiro dos imigrantes.

Que o 30 de maio seja sempre lembrado como o dia que empobreceu o jornalismo riograndense.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

"Nasce uma escritora" - por Vinícius Bossle

O texto abaixo foi publicado no Jornal NH, do Grupo Editorial Sinos, de Novo Hamburgo/RS, no dia 13 de dezembro de 2011.
Vinícius Bossle, amigo e colega do meu avô Alceu Feijó,  prestou-me esta linda homenagem, na véspera de lançar meu primeiro livro, "Carola".


Observação: meu pai  é ANDRÉ, não Ricardo, como mencionado no texto. Meu esposo não nasceu em São Francisco de Paula. Perdoa-se estes pequenos enganos a um carinhoso amigo, com mais de 80 anos...

No mais, é tudo verdadeiro!

segunda-feira, 9 de abril de 2012

CAROLA no Guarita Park Hotel

Na noite do dia 7 de abril de 2012, no Guarita Park Hotel, em Torres/RS, houve  o lançamento do livro "Carola".
O Hotel, especializado em eventos e no bom atendimento do hóspede, recebeu a autora com muito carinho e atenção. Embalado pela música ao vivo do cantor torrense Batista, o evento foi um sucesso.
Cantor Batista
Meu agradecimento especial à gerência do Guarita Park Hotel e seus funcionários, que demonstraram o carinho do estabelecimento para com a cultura de nosso estado.


Até a próxima!

quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Páscoa no século XIX

A comemoração da Páscoa é uma tradição que atravessa os milênios e diversas culturas, com formas e significados diferentes para cada uma delas. Nos tempos atuais, existe uma mescla, que envolve coelhos, ovos, chocolate, proveniente de toda essa miscigenação.
Na casa dos Koseritz, por Zeferina ser extremamente católica, havia a obrigatoriedade do jejum, durante a quaresma.
macela
A colheita da macela era uma tradição sempre aguardada e na sexta-feira santa, antes do nascer do sol , saíam com sua cestas para buscar a delicada flor amarela, boa para chás, para perfumar os cabelos e trazer bons sonhos.
No Domingo de Páscoa, após a missa, as meninas procuravam ovos cozidos, escondidos pelo jardim da casa e recebiam um ovo maior, de açúcar ou marzipan, decorados. Era bastante comum, no século XIX, presentear com ovos decorados com uma peculiar cena dentro, que podia-se ver através de uma abertura em forma de janela.
 Toda essa tradição de Páscoa está descrita no livro "Carola", que narra a vida da família Koseritz em suas menores peculiaridades.

                                                                                           "Carola", de Sílvia Meirelles Kaercher, Ed.Novitas, 2011.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Alceu Feijó e os Koseritz


O texto abaixo foi publicado na contra capa do livro Carola.

Alceu Feijó e sua neta, Silvia M. Kaercher, autora de "Carola".

A jovem Silvia sempre foi interessada pelas histórias e lembranças da família e os Koseritz  povoavam sua imaginação e a instigavam a querer saber sempre mais.  Anos mais tarde, ficou admirada ao descobrir o quanto a obra e a vida de seu tetravô Carlos von Koseritz foi importante para o Rio Grande do Sul e para o país. Histórias que nem mesmo a família conhecia.
Á medida que as imagens e histórias de sua trisavó Carolina von Koseritz surgiam, iam desafiando-a a escrever a história de seus antepassados, para reconhecimento das novas gerações que pouco ou nada teriam ouvido ou sabido sobre esta mulher que engrandeceu a Província com suas habilidades de escritora e tradutora.
Enquanto nomes, datas, momentos, acontecimentos começaram a ser desvendados da vida de Carolina, surge seu pai, Carlos von Koseritz, grande tribuno, deputado provincial e defensor do germanismo. Jornalista pertinaz e idealista, sofreu agressões e foi combatido, mas continuou destemido a defender suas ideias, legítimas, desafiando autoridades religiosas e políticas e tornando-se internacionalmente reconhecido por sua luta a favor dos imigrantes alemães e no desenvolvimento cultural da província.
No livro de Sílvia, vemos esse universo reconstruído, nas discussões políticas, nos debates, na cultura e nos hábitos da era Imperialista, que movimentaram o Rio Grande do Sul e o Brasil do século XIX.
 

Alceu Mário de Sá von Koseritz Feijó é jornalista, avô da autora e bisneto de Carlos von Koseritz.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Parabéns, Porto Alegre: 240 anos!

Cidade que Carlos von Koseritz elegeu para viver e trabalhar, motivo de orgulho e amor, Porto Alegre completa hoje 240 anos. Aqui nasceram as quatro filhas de Carlos, Carolina, Adelaide, Zelinda  e Zeferina. Nesta terra, encontram-se os restos mortais do grande jornalista e deputado, defensor ferrenho dos imigrantes alemães e da cultura germanista.
Abaixo, um trecho do livro "CAROLA", que demonstra a paixão de Kosertitz por sua cidade adotiva:


Rua da Praia, 1910.
"Providenciaram a retirada das bagagens do vapor, junto com o escravo Tião. Depois de tudo embarcado nos carros, partiram para a Rua da Olaria. Carlos ia admirando a paisagem de Porto Alegre e seu coração ia se acalmando. Respirava a plenos pulmões o ar gelado do Rio Grande e isto lhe fazia um enorme bem. Dois meses eram tão pouco, mas para ele fora uma eternidade. Notava que pouca coisa havia mudado. Apenas as mudanças costumeiras. Quando foi para o Rio de Janeiro, o outono dourava as copas das árvores, e agora, poucos dias depois do começo do inverno, elas já estavam totalmente nuas. Pouco verde se via pela cidade. Mas o movimento de gente nunca cessa, nem quando o gelado minuano sopra, então ali estavam os porto-alegrenses, circulando em seus carros e bondes, montados em seus cavalos ou caminhando pelas ruas largas e regulares da capital da província."
                                                                      (Carola, de Sílvia Meirelles Kaercher)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Poesia: Schneeblumen

Esta romântica e delicada poesia, tradição oral da Família Koseritz, é atribuída a Carolina von Koseritz, mas sua autoria nunca foi confirmada. Mesmo assim, vale a pena conhecê-la.


 Schneeblumen
 Schneeblumen

Lá na Alemanha, quando a neve espalha
por sobre o vale a gélida mortalha,
uma pequenina flor misteriosa nasce
na estação fria e invernosa.

Em maio, quando o prado reverdece,
a pequena flor desaparece
e só desabrocha pequenina e leve
quando se espalha por sobre o vale a neve.

Como essa flor misteriosa e estranha,
que pelo inverno nasce na Alemanha,
é teu coração dentro do peito
de puríssima neve todo feito.

E embora em teus olhos haja lume,
o teu coração é como a Schneeblumen.


(autor desconhecido)


Contribuição de Elza Maria Gower, descendente de Zelinda von Koseritz.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

90 anos sem Carola

Hoje, dia 9 de janeiro de 2012, completam-se 90 anos da morte de Carolina. Vítima de uremia, sofreu por cinco anos dores, paralisias e hemorragias.
De onde estiver, que receba o nossas vibrações de carinho e amor!

Abaixo, um pequeno trecho de "Carola", a biografia romanceada sobre ela.



Ali, junto dos meus, olhava para minha cova e refletia sobre a vida que acabava de deixar. E em como seria, dali para frente. Para mim e para Stella.
O anjo olhava com melancolia. Havia sofrimento em seu rosto de pedra. Mas eu não sofria mais. A paralisia se fora, só ficara a dor em meu peito. A mesma que me consumiu nos últimos anos:
- Por que fiz tudo dessa forma?
Então, sentindo o vento que balançava as poucas árvores ao redor do cemitério, meus pensamentos voaram para tão longe, que comecei a ouvir, bem de leve, a voz de minha mãe me chamando:
- Carolina...
                                                                       (trecho de "Carola" , de Silvia M. Kaercher. Editora Novitas)


Com carinho.