domingo, 6 de abril de 2014

Refúgio de Koseritz pode desaparecer!

Carlos von Koseritz foi sempre um jornalista duro, ferrenho em suas opiniões. Combateu desmandos, enfrentou críticas, elucidou a sociedade e cobrou atitudes das autoridades políticas. Seu temperamento árduo só amainava no que dizia respeito às suas filhas e esposa, momento em que se transformava em pai e esposo amoroso e dedicado.
Mesmo sendo membro e deputado provincial do Partido Liberal, não fez frente ao novo regime proclamado em 1889, a República.  Ainda assim, os debates, que ele acreditava "não deveriam, em nome da honra do país, restringir a livre expressão do pensamento", se acirraram e o momento era de muita agitação política, colocando os liberais do jornal "A Reforma", cujo redator chefe era Koseritz, contra os republicanos do "A Federação", de Assis Brasil e Júlio de Castilhos, este último, seu principal redator.
Assim foi que, para "precaver a vida de fracas meninas", refugiou-se dos debates políticos e perseguições dos republicanos, em março 1890, na chácara do amigo José Vicente da Silva Teles, na localidade de Pedras Brancas, hoje município de Guaíba/RS. Um local aprazível, sobre uma elevação, diante do Guaíba. Uma chácara de veraneio, com uma grande casa em estilo colonial português, de onde se tinha os morros de Porto Alegre como paisagem, um local para longos passeios entre a mata nativa, a rica fauna e o frescor do lago. Um local que deveria trazer paz de espírito para a família e saúde às meninas.
 Mas não foi assim....
Ali, no isolamento de Pedras Brancas, o agora perseguido político Carlos von Koseritz sofreu cárcere privado, ficando preso à vista de armas, com soldados dentro e fora de casa, com um grande aparato bélico. Na imensa casa, de muitas janelas, por uma semana a vida de Koseritz e a família perigou. Qualquer movimento em falso poderia sugerir tentativa de fuga, e o fogo se faria contra o preso. Aprisionado injustamente, sem crime, condenado sem julgamento, apenas a mercê da explícita má vontade política dos redatores do jornal "A Federação", a prisão se fez tão somente por haver, o jornalista, exercido seu dever em debate, no qual acreditava, como ficou provado posteriormente, pela ausência de contravenção. Foram os dias de cárcere o motivo do grande stress emocional que culminou com a morte do jornalista,  no dia 30 de maio de 1890, uma semana após a sua libertação,.
O cerco a esta casa, hoje conhecida como "Casa da Bala", teve papel fundamental na morte do grande jornalista, mentor do germanismo e destacado parlamentar gaúcho.
Embora preservada em suas características originais, este raríssimo exemplar da arquitetura colonial portuguesa, de meados do século XIX, após anos de ocupação, está  atualmente abandonada e sofrendo grande desgaste pela falta de manutenção. Localizada em meio a um loteamento, e cercada pelo que ainda resta de mata nativa, corre o risco de desaparecer. Por isso, encontra-se em processo de tombamento pelo Governo do Estado, através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul.
"Todas as janelas eram guardadas por soldados"

Deve haver, por parte de todos que se interessam pela preservação da nossa história, um movimento ferrenho na preservação deste patrimônio. Com restauro, manutenção e limpeza, poderia se tornar um ponto turístico da cidade de Guaíba e do estado, e até mesmo um merecido memorial para Koseritz e demais eventos e pessoas que estejam relacionados com o local.
 Iniciativas públicas, políticas e privadas serão bem vindas neste projeto. Preservar é nossa obrigação e nosso legado para as futuras gerações.

Sílvia M. Kaercher