quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Receita de Carolina: "Mai Benta"

Retirada do livro de receitas de Carolina von Koseritz:

"MAI BENTA"

Meia libra de manteiga
Meia dita de assucar
Meia dita de farinha de arroz
Côcô
6 ovos, sendo 4 sem claras e 2 com claras batidas a parte.

Bate-se o assucar com a manteiga, junta-se 6 gemas batidas aparte, torna-se a bater, e depois mistura-se o côcô e torna-se a bater, mistura-se a farinha e bate-se e vai ao forno quente.
As forminhas são forradas com folhas de bananeira, quando tem. Não tendo, são untadas com manteiga.


(mantida a ortografia da época)

Se você quiser experimentar esta delícia, segue uma receita mais moderna: 


MÃE BENTA

Ingredientes
1 colher de sopa bem cheia de manteiga
1 xícara de açúcar
3 ovos
1 xícara de farinha de arroz
150ml de leite de coco
Modo de fazer 
Preaqueça o forno a 180º C. Na batedeira, bata a manteiga com o açúcar, acrescente as gemas uma a uma e continue batendo até a massa ficar esbranquiçada. Desligue a batedeira e acrescente a farinha de arroz, alternando com o leite de coco, e misture com uma colher de pau. Bata as claras em neve e junte-as à massa, misturando delicadamente.
Coloque as forminhas de papel dentro das formas de empada para que não percam o formato ao assar. Despeje a massa deixando cerca de 1 centímetro de borda. Leve ao forno para assar de 30 a 40 minutos, ou até que estejam douradas.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

As receitas de Carola

Hoje vivi um momento muito especial. Em minhas mãos, estas grandes e desajeitadas mãos, esteve, por alguns minutos, a maior preciosidade de nossa família. Meu objeto de desejo, em anos de pesquisa. Algo que alimentou minha curiosidade e imaginação, uma coisa tão pequena e simples, mas que tomou proporções gigantescas em meu desejo: o CADERNO DE RECEITAS de Carolina von Koseritz!
Quem conhece minha história, ou leu meu livro "Carola", sabe do imenso amor e carinho que dedico à minha trisavó. Mas para quem não sabe, vou dar uma ajudinha: imagine ter em suas mãos algo tão antigo, tão rico em significado, tão precioso... Um pequeno caderno, do tipo brochura, de capa dura e vermelha. As folhas, finas, delicadas, quase transparentes, desgastadas pelos mais de 100 anos de existência. A caligrafia caprichada e perfeita, escrita a bico de pena, a letra da jovem Carolina...
Aquele caderninho, que para qualquer um meio desavisado, não passaria de uma velharia,esteve nas mãos de Carolina, nas mãos de sua filha Stella, e serviram para orientar as deliciosas e exóticas receitas que alimentavam a família, há tantos anos atrás. Pudins, bolos, sopa... E o indefinível  Pudim de Salmão!
A sensação que tive foi indescritível, misto de alegria e de admiração. Meu coração se aqueceu, vibrou de mansinho e minhas mãos, tão grandes e desajeitadas, fizeram-se leves, para acariciar, cheias de amor, aquelas páginas antigas, amareladas e tão cheias de significado.
Hoje, realizei um sonho! Meu agradecimento sincero à tia Leda Feijó, que proporcionou-me isso!
                                                                                                           
                                                                                                              Silvia M. Kaercher

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Koseritz e a cultura gaúcha

Não foi, o 20 de setembro, o precursor da Liberdade, como canta o Hino Rio Grandense, pois após o término da Guerra dos Farrapos, o Rio Grande do Sul continuou atrelado ao governo brasileiro. Mas foi, sim, o precursor do grande orgulho que o povo riograndense tem por sua terra, seus hábitos, sua cultura.
O gaúcho é estimulado, desde a mais tenra idade, a valorizar suas tradições, habituar-se com o vocabulário campeiro e a ouvir suas canções típicas, repletas de sentimento de amor a seu estado/pátria e cultiva hábitos como chimarrão, carreteiro e churrasco em todas as camadas de sua sociedade, hábitos antes restritos à lida nos campos, aos trabalhadores das zonas rurais. Somos hoje, um grande estado/nação de campeadores!

CARLOS von KOSERITZ, grande amante que era das coisas do Rio Grande e do Brasil, foi um dos pioneiros no resgate desta cultura. Publicou poesias populares, instigou o povo a valorizar suas origens e foi, por isso, admirado em todo o país.

Segundo José Fernando Carneiro, biógrafo e historiador, no livro KARL VON KOSERITZ (Cadernos do Rio grande X):

"Merecem referências seus estudos sobre a poesia popular rio-grandense, que ficaram célebres. Foi (Koseritz) quem primeiro identificou e colheu no Rio Grande uma versão de NAU CATARINETA. As quadras populares que coligiu serviram depois a Simões Lopes Neto na elaboração do seu CANCIONEIRO GUASCA. Um precursor (Koseritz), portanto, na família dos nossos folcloristas."

                                                                                                       
Que sirvam, pois, essas façanhas, de modelo a toda gente!

Um 20 de setembro abençoado aos gaúchos e gaúchas de todas as querências!

                                                                                    Silvia Meirelles Kaercher


quarta-feira, 12 de setembro de 2012

A PROMESSA

A crônica que transcrevo abaixo foi escrita pelo jornalista Alceu Feijó, e publicada no Jornal NH, no dia 3 de janeiro de 1986.
Uma lição de amor e respeito aos nossos amados pais, que tanto fizeram por nós!

A Promessa

Ao completar mais um ano e contemplar uma velha fotografia dos plantadores de trigo lá em São Francisco de Paula, vejo entre eles a presença de meu pai, Darci Feijó. Um turbilhão de coisas e emoções se abate sobre as minhas saudades e lembranças. Uma delas é que meu pai faleceu com 47 anos e eu já tenho 58, portanto, já vivi muito mais do que ele, no entanto, de tudo que me lembro, ele viveu uma eternidade, tão marcada que ficou sua passagem entre nós e seus amigos. Ele faleceu quando esperava um neto, morreu antes da Lenize nascer, ela que seria sua primeira neta, eu já tenho cinco, e acho que ele seria muito mais avô do que eu tenho sido, embora eu consiga ser  um avô integral durante 15 minutos quando os cinco estão reunidos comigo. Ele que me desculpe, mais de 15 minutos não dá pra aguentar o redemoinho  que representam. 
Um domingo me enchi de coragem e fui passear com o bando todo em São Francisco. De largada já começaram a brigar pelo lugar da frente e na volta estavam brigando pelo lugar de trás. Houve um momento em que o pandemônio era tão grande nos fundos da Caravan  que eu travei no meio da RS e bradei com os braços levantados:
- CHEGAAAAAAAA...
Mas são um encanto, logo serenaram e passaram o resto do passeio quietinhos e se espiando, na maior candura do mundo. Até hoje eles lembram da minha bronca.
 Mas eu também me lembro perfeitamente de uma tarde num quartinho escuro da Beneficência Portuguesa, onde meu pai se recuperava de uma operação e me abraçando, pediu balbuciando:
- Se me acontecer alguma coisa, cuida da tua mãe.
Anos mais tarde ele morria e minha mãe passou a morar comigo. Inicialmente, sem poder lhe oferecer muito de conforto e até mesmo de carinho, via o tempo passar e as palavras de meu pai bem vivas na minha consciência.  Resignada e pacienciosa, ela jamais pediu nada mais do que um pouco de atenção e a presença dos netos ao seu lado. 
Nas primeiras horas de 86, levei-a ao seu pequeno apartamento e vendo-a subir os degraus vacilante, procurando apoio nas paredes, não a acompanhei, postado que fiquei ao pé da escada, ouvindo seus passos indecisos sumirem escada acima, a porta bater revelando o som do seu refugio. Por alguns instantes, ainda fiquei imaginando o vazio da vida para os mais velhos. Soberanos e envolvidos com a saúde dos filhos, educação, preocupações de toda ordem, chegam a um momento da vida isolados num canto, mesmo com conforto, somente com suas lembranças. 
Quando consegui um apartamento para minha mãe, cheguei a falar com meu pai prestando conta do seu pedido. Pronto, sua mulher tem um apartamento só dela, cumpri minha obrigação (?). Cada vez que eu ia visitar minha mãe e era recebido com agradecimentos, eu sentia que faltava algo. Que não bastava só   o conforto, a tranquilidade, a privacidade de um pequeno apartamento. Foi só na madrugada do dia 1º de janeiro de 1986 que senti que o pedido feito pelo meu pai era bem maior do que uma cama e um prato de comida. Ouvindo os passos frágeis escada a cima e o bater da porta, passei a me questionar se tinha cumprido mesmo a promessa. 
Na mesma hora, multipliquei minha posição pela de milhões, milhões de filhos que levaram suas mães ao "seu cantinho" depois da festa de fim de ano, e concluí que somos todos um batalhão de ingratos incorrigíveis, amordaçados por um sistema de vida que não aceita as coisas de outra maneira. Chega ao ponto que os vizinhos dão mais atenção às "vovós" do apartamento ao lado, que os filhos. Honestamente, não vejo como mudar essa situação, embora sinta todas as emoções que o fato provoca. Vou ter que agradecer publicamente aos vizinhos do Santa Geovana pelas atenções que tem dispensado a minha mãe e ter outra conversa com meu pai e perguntar-lhe se cumpri com seu pedido. Tenho a impressão que ele irá me dirigir um meio sorriso e sacudir sua cabeça negativamente, concluindo com sua bondade:
- Está tudo bem, meu filho, eu e tua mãe estamos felizes...


Stella, mãe de Alceu Feijó,  faleceu dois anos após esta crônica.




segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Resenha: Chiquinha & Eu


Chiquinha & Eu, de Beth Stockler


Casarão nº 8, na praça principal de Pelotas 

Como contar a história de uma casa? Como resgatar a vida das pessoas que ali viveram, há um século? Quanto de tudo isso está em seus descendentes, no inconsciente/consciente de cada familiar?

Abençoada e amparada por recordações vivas e um grande volume de objetos, cartas e documentos, Beth Stockler atirou-se a esse desafio: trazer à vida os Antunes Maciel, proprietários do Casarão 8, hoje em restauro, Patrimônio da Cidade de Pelotas/RS. 

Sua narrativa nos cativa no primeiro capítulo, repleto de amor, daquele amor inexplicável que se tem por alguém que sequer conhecemos, fruto da tradição oral da família e da curiosidade de criança. A volta da bisneta amorosa ao casarão que abrigara sua família por gerações, desperta histórias esquecidas, emoções guardadas, descobertas. 

Francisca Antunes Maciel, a Chiquinha, entrelaça suas lembranças de outrora com as histórias que a autora ouviu e forma uma narrativa repleta de nuances espirituais, testemunhando que a vida segue e que os laços familiares amorosos se perpetuam.

O senhor da casa, Francisco Antunes Maciel, proeminente de seu tempo, deputado provincial, político e Ministro de Estado, abre-nos seus salões onde figuras como Gaspar Silveira Martins e Gumercindo Saraiva são convidados frequentes. Algumas das maiores personalidades da vida pública rio-grandense no final do século XIX,  passam por nós através de documentos, fotos, cartas telegramas, e é admirável como a autora reconstrói o dia a dia da família, nas menores nuances.

O livro não é um romance, não é regido por um fio condutor que trama uma história. São como flashes, momentos, acontecimentos corriqueiros ou importantes, narrados por diversas vozes. Um excelente livro para quem gosta de História, para quem admira a escrita bem delineada, para quem quer conhecer os costumes e os hábitos do século XIX. Mas acima de tudo, Chiquinha & Eu é um livro de amor, uma homenagem que Beth Stockler faz a toda a sua família.  Recomendo.

                               Sílvia Meirelles Kaercher


LIVRO: Chiquinha & Eu – Reinventando o passado
AUTORA: Beth Stockler
EDITORA: Gráfica e Editora Cidade de Barbacena, 2012.
CONTATO COM A AUTORA: http://servoleta.blogspot.com.br/
VENDA: www.livrariamundial.com.br
 EMAIL: lmundial@terra.com.br
 VALOR: R$ 44,00