segunda-feira, 10 de maio de 2021

A pior mãe do mundo!

(Confissões de uma mãe em crise)

Costumo dizer que minha fábrica de filhos funciona devagar e sempre...

Fui mãe pela primeira vez aos 18 anos, do Guilherme. Sim, precoce e despreparada, embora pensasse que sabia, melhor do que ninguém, como educar um filho.

Meu segundo filho, o Maurício, nasceu 10 anos depois. Então, eu tinha algumas dúvidas sobre como criar um filho.

Quando a Sophia nasceu, 7 anos depois, eu tinha certeza absoluta de uma coisa: educar é muito complicado e, definitivamente, eu não sabia fazer aquilo!

Mal havia me acostumado a ter um bebê em casa de novo e a curtir meu primeiro sobrinho, quando, precocemente, fui avó! Mal completava 18 anos na função de mãe e já era promovida à categoria superior, sem aviso prévio. Totalmente despreparada para a novidade, como há 18 anos. E nada nessa equação Eu = (mãe + avó)² me fez mais experiente ou sábia. Só me trouxe mais dúvidas. 

Educar filhos deveria ser uma matéria escolar. Ou talvez devêssemos fazer curso superior na área, um preparo psicológico e prático sobre como sobreviver às noites mal dormidas, às cólicas, às birras e a todo tipo de chantagem emocional. Porque parece que os filhos já vêm pós-doutorados nisso tudo!

Eles não são o tipo de filha que eu fui... Darwin estava correto quando expôs a evolução das espécies e nossos filhos estão em um grau de evolução acima do nosso. Mas espertos, mais ativos, mais preparados do que fomos. E pior! Com avós que nos cobram constantemente para que não cometamos os mesmos erros que eles cometeram.

Nós, os adultos, perdemos toda a autoridade perante os filhos, perdemos a TV e até o computador. Os reis do pedaço determinam meus horários e são os patrões mais exigentes que já tive! Esses dias, vi um post no Facebook que dizia que ser mãe era deixar a televisão ligada nos desenhos,  ao invés de assistir a novela. Precisei curtir! E compartilhar! Não porque  ache que isso é ser mãe, mas porque é exatamente isso que faço! Abro mão das minhas prioridades por eles, embora eles sempre achem que é pouco...

Outro dia, fui pagar o carnê das lojas Marisa e pensei em aproveitar um bônus que recebera, para comprar um sutiã novo, pois o meu favorito estava pedindo pelamordedeus para ser aposentado. Mas eis que, já na fila, me deparo com um pijama de princesas, feinho até, mas quentinho, de feltro, exatamente o que procurava para minha filha, que dorme descoberta mesmo que faça 2° graus de madrugada. Debati-me entre um e outro, tentando encontrar a prioridade entre o frio da noite, os remédios antialérgicos, narizes ranhentos e as dores de ouvido, contra a minha alça do sutiã que vira e mexe escorregava pelo braço, já sem a elasticidade de dois anos atrás... Adivinhem o que comprei?

Pois é... Naquela noite, após chegarmos em casa, entreguei à pimpolha a sacola da loja, com um sorriso de satisfação e um carinhoso:

- Olha o que comprei pra ti, meu amor!

A pessoinha abriu a sacola, encarou o pijama e depois de dois segundos, soltou um:

- Lindo! – e sem a menor emoção, atirou o pijama no canto.

E enquanto eu olhava a cena, abobalhada, a alça do meu sutiã escorregou pelo braço...

Mas mãe é assim... ou não? Bem, conheço gente que economiza nos brinquedos e roupas dos filhos para poder comprar a TV mais bacana. Até acho que estão certos, embora eu não consiga. Fico tão empolgada quanto eles diante da seção de brinquedos de uma loja. Houve um tempo que, toda vez que íamos ao supermercado, as crianças saíam com um brinquedo. E eu ficava feliz! Mas agora, como sou a pior mãe do mundo, combinei com eles que só darei brinquedos no aniversário, dia das crianças e Natal! E já dei a dica aos tios e avós para que façam o mesmo. Ah, chega de juntar brinquedo!!!

Aos poucos, precisamos nos livrar dessa culpa, desse medo de fazer tudo errado, de traumatizar. Eles aguentam, eles superam e, principalmente, nossa qualidade de vida melhora. Para o que não tem remédio, tem psicólogo! Mas de mim, quem cuida?

Muitas vezes, nestes anos todos, me senti sozinha e perdida. Porque fazemos tudo que podemos, nos dedicamos, nos dispomos a brincar no chão, a ir na pracinha quando queríamos ficar em casa, na cama, ou ir ao cinema assistir a um filme de adulto para variar ou mesmo jantar sozinhos. Meu marido é parceiro, ajuda (muito mais quando quer do que quando quero, mas já é uma mão) e também sente essa vontade de viver uma vida de adulto, de vez em quando. Não temos babá e nem ajuda dos parentes, pois moram longe. Estamos por nossa própria conta e risco.

E mesmo sendo pai e mãe em tempo integral, ainda assim parece que fazemos pouco. Noto que hoje em dia, muitos casais estão nesta situação, em que os filhos são o centro de suas vidas. Trabalham, vivem e se divertem por eles, com eles e através deles. Abençoados os pais que tem com quem contar, neste mundo em que os avós estão cada vez mais conectados com as redes sociais e menos com os bolinhos e tricôs. Quem não gostaria de ter uma Dona Benta para mandar os filhos passarem as férias?

Esses dias, ouvi uma senhora argumentando com duas crianças, em uma loja de brinquedos, sobre o que poderiam levar ou não, e as crianças não chegavam a um consenso. Agoniada, a mulher olhou para mim e desabafou:

- Eles saem para viajar e deixam os filhos comigo – referindo-se aos pais das crianças, que eram seus netos.

Eu e a outra mulher na fila nos olhamos e sorrimos:

- Coisa boa ter com quem deixar os filhos para viajar – falei, invejosa da sorte daquele casal. Inveja mesmo, daquela bem roxa. Não  me julgue.

Prontamente, a outra concordou:

- Que sorte ter avó que cuide dos netos!

E não é? Minha mãe e meu pai me apoiaram demais com meu filho mais velho, que tive solteira. Apoiaram, ajudaram a sustentar, cuidaram. Mas a responsabilidade sempre foi minha e como o fígado de quem disser que foi minha mãe que criou o Guilherme! Fui eu, sempre eu! Ela cuidava dele para eu sair, poucas vezes para eu dormir, raramente se eu estivesse em casa. Mas comidinha, fralda, banho, diversão e custos sempre foram comigo. 

Tem uma frase que minha mãe sempre dizia (e a ainda diz) quando não queria ou não podia cuidar dele para mim, e que me dava uma gana imensa, porque sempre agourava meus planos:

- “Quem pariu Mateus, que o embale”.

Algumas vezes, o Guilherme morou com meus pais, depois que me casei. Muitas vezes ele se refugiou na casa dos avós para fugir de alguma encrenca que arranjara comigo. E nessas horas, em que eu queria dispor da minha autoridade de mãe e disciplinadora, minha mãe dizia:

- Deixa ele aqui, até tu te acalmares...

Porque avó é isso! É o doce dos netos e a chibata dos pais.

Será que meus filhos, quando forem adultos e chegarem naquela fase em que começamos a entender nossos pais, darão valor ao que fizemos para que eles fossem sempre felizes? Será que lembrarão? Será que nós nos lembramos de tudo que nossos pais fizeram por nós, de seus sacrifícios e renúncias? Porque de seus defeitos e erros nós lembramos e juramos que faremos diferente (e muitas vezes não conseguimos).

É tão difícil ser mãe e pai hoje em dia, parece que existem mais “nãos” para os pais do que para os filhos. Não bata. Não grite. Fale sempre afirmativamente. Nunca diga não. E principalmente, você deve amá-los e se sentir grato por toda a renúncia que faz!

Noto muito isso nas redes sociais que frequento. É um desfile de post’s falando bem dos filhos, quase uma competição para ver quem tem o mural mais coruja. Declarações rasgadas de amor eterno, amor à primeira vista, amor incondicional. Claro que todos nós amamos nossos filhos, mas tem horas em que eu gostaria de mandá-los de volta ao útero, ou ao local em que estavam antes dele... E quando escrevo que estou p da vida com um deles, um monte de gente curte e acontecem dois fenômenos diferentes: quem é mãe jura que seus filhos são piores que os meus e as avós riem e falam que é assim mesmo, cheias da complacência que não tiveram com seus filhos. 

Eu, sinceramente, já nem leio e nem compartilho essas fotos cheias de amor rasgado pelos filhos. Às vezes dá até uma inveja de tanto amor, de tanta felicidade, enquanto desconfio que os meus estão conspirando para me enlouquecer... Mas não pense que não os amo! Daria minha vida por eles! Ainda mais quando estão dormindo. Aí, então...como os amo!



Silvia M Kaercher - 2012.


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